terça-feira, 23 de outubro de 2012

‘Não acredito na escola que está aí’


Frase é da educadora Zoia Ribeiro Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes, que veio a Bauru para a Semana da Educação

A educadora Zoia Ribeiro Prestes é uma guerrilheira no sentido de ter uma postura rebelde em relação à escola atual. Seria de se estranhar um comportamento diferente de quem é filha do líder comunista Luiz Carlos Prestes. “Eu não acredito nessa escola que está aí hoje”, dispara a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A vinda de Zoia a Bauru se insere numa tentativa de mudança no ensino oferecido pela Prefeitura. A Câmara Municipal de Bauru aprovou ontem o Sistema Municipal de Ensino que dará autonomia à Secretaria Municipal de Educação (SME) para definir o conteúdo oferecido para quase 20 mil estudantes no ensino infantil, ensino fundamental e de jovens e adultos.
Zoia abriu ontem a 12ª Semana Municipal de Educação e Conferência Municipal de Educação, no Teatro Municipal. A palestra atraiu educadores da Argentina interessados no conhecimento dela.
A secretária municipal de Educação, Vera Casério, define que a Semana foi pensada para que os educadores do município sejam estimulados. “Estamos escrevendo uma proposta para a educação infantil e para o ensino fundamental. Sei que vamos tomar cutucadas. Mas é importante para que a gente não se acomode”, frisa a secretária.
Para a filha de Prestes, o problema da escola brasileira é negar a capacidade humana para o desenvolvimento do indivíduo. A educadora critica a organização da escola em busca de um padrão de desenvolvimento, hierarquização do conhecimento e a relação entre os atores privilegiar o professor em detrimento da relação com o aluno. “O professor não quer deixar o pedestal dele”, define.
Nesta organização de escola é impossível encaixar as ideias do russo Liev Semionovitch Vigotski (1896-1934), pensador estudado por Zoia.
Vive-se o tempo da escola de resultados e índices e diagnósticos em profusão limitando a visão dos educadores e dos próprios alunos, em um ambiente focado para institucionalização e não para o desenvolvimento do ser humano. Zoia define que a escola perde um tempo precioso na tentativa de enquadrar a pessoa no ambiente previamente definido. A visão marxista defendida por Vigotski procura a relação dialética em que predomina uma via de mão dupla: “eu transformo a natureza e a natureza me transforma”.

Mundo
Comunista, ela acredita em uma sociedade de convivência em que as pessoas desfrutem a liberdade de escolha e de guiar a vida, sempre na convivência com outros. Muito desse pensamento vem da influência dos pais comunistas Altamira e Luiz Carlos. Ela não ignora os erros do socialismo implantado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), desintegrada oficialmente no início dos anos 90.
Zoia também vê com ceticismo o bom momento econômico vivido pelo Brasil. Ela atribui a desconfiança aos valores neoliberais mantidos pelos últimos governantes.
Aos professores, ela insiste para que não se entreguem às facilidades, não se acomodem e tentem mudar. “É muito comum você dizer que já estava assim quando chegou. Tem que se rebelar para tentar transformar a escola”, finaliza.

Outro Vigotski
Segundo ela, o livro “A formação social da mente”, texto clássico no Brasil de Liev Semionovitch Vigotski (1896-1934), não representa as ideias do pensador soviético. “É atribuído a ele, mas o que está lá ele não escreveu”, revela a educadora Zoia Ribeiro Prestes. Ela garante que não é possível encontrar sequer uma frase de contexto ao se comparar “A formação” com os textos originais do pensador soviético. Zoia brinca que o vermelho de Vigotski na visão norte-americana foi alvejado com água sanitária. 
Se é possível extrair um conceito integrador do pensamento de Vigotski é o princípio de que o social já está posto, portanto, é do coletivo para o desenvolvimento individual.
Segundo Zoia, na Rússia já ocorreram problemas de mutilação dos texto do pensador. A educadora esclarece que Vigotski é apresentado ao Ocidente capitalista pelos norte-americanos. Isso representaria uma depuração ideológica.
Para ela, a visão deturpada de Vigotski no Brasil começa a se modificar com a chegada das traduções para o espanhol feitas por Julio Guillermo Blank, que teve acesso a originais na Rússia. Ainda assim, avalia Zoia, há problemas de tradução, apesar da seriedade dos estudos de Blank, na Argentina.
A educadora redescobriu em sua tese de doutorado na Universidade de Brasília (UnB), defendida em 2010, conceitos fundamentais do russo Liev Semionovitch Vigotski (1896-1934) degenerados nas traduções brasileiras do pensador, crítico de arte, pedagogo e psicólogo russo, colaborador do Instituto de Psicologia Experimental de Moscou, um dos fundadores da escola soviética de psicologia e autor da teoria histórico-cultural. Zoia cita que Vigotski aderiu aos ideais à revolução russa. 
Fonte: www.jcnet.com.br

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