domingo, 14 de outubro de 2012

Região tem 6 milhões de cabeças de gado


Hoje é Dia Nacional da Pecuária, uma atividade que envolve a criação de gado, domesticação e a reprodução de animais. A data foi instituída em 2008. Na região de Bauru, os pecuaristas têm pouco a comemorar. Apesar do preço da arroba do boi estar melhor do que há três anos, as áreas de pastagens diminuíram com a concorrência da cana, eucalipto e laranja. Nos 16 municípios da região há cerca de 6 milhões de cabeças de gado de várias raças.

Para o presidente do Sindicato Rural de Bauru e vice presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, Maurício Lima Verde, os preços da arroba do boi estão muito melhor em comparação com os valores de anos atrás.
“Nos últimos nove meses, o preço está estabilizado entre R$ 90 e R$ 100 a arroba. Hoje se vende um boi por R$ 95,00 a arroba. Há dois anos era metade disso. Houve uma elevação muito grande e isso vai continuar porque se permite um grande abate de fêmea. Há 10 anos era proibido. Só era autorizado quando a vaca estava doente.”
Para ele, o que provocou a grande alta no preço da arroba, nesses últimos dois anos, foi a falta de carne no mercado. “Diminuiu demais a população bovina no Estado de São Paulo com o avanço do eucalipto e da cana. São poucas as áreas de pastagens. Dois frigoríficos estão em recuperação judicial e os pecuaristas não querem engordar um boi para abater a 300 quilômetros daqui.”
A região de Bauru, segundo Lima Verde, é de baixa produtividade para a pecuária. “A produtividade da pecuária na nossa região é muito baixa, a área de pastagem é grande, mas está diminuindo rapidamente. No Estado todo está acontecendo esse fenômeno. Por aqui a terra é muito cara e a pecuária não dá o retorno esperado. Há alternativas mais rentáveis. O café foi embora, a pecuária vai indo.”
Durante muitos anos, lembra Lima Verde, a região contou com ‘vantagens’ em relação às demais do Estado. “Na nossa região tínhamos dois grandes frigoríficos, um em Bauru e outro em Lençóis Paulista. Ambos, abatiam cerca de 800 cabeças/dia. Atualmente, eles estão em recuperação judicial e o abate caiu muito. O pecuarista está vendendo o gado para frigoríficos mais longe.”
Aliado à localização dos abatedouros há logística também era item de importância para os criadores de gado. “Primeiro a parte logística. Depois, a área que chega a 70% de pastagens. Nos 15 ou 16 municípios que compõem a região de Bauru tem mais ou menos 6 milhões de cabeça de gado, sendo 15% de leite.”
Na opinião dele, depois da decretação da recuperação judicial dos frigoríficos da região, os pecuarista passaram a ter mais uma dificuldade. “Hoje, eles têm que vender para Lins ou para abatedouros na Alta Paulista. Houve certa descapitalização. Os leilões diminuíram de intensidade, pessoal ficou durante um período sem recurso. Mas o setor, aos poucos está entrando na normalidade”.
A baixa produtividade em nossa região é algo que salta aos olhos, explica Lima Verde. “Enquanto que nas regiões mais adiantadas, com pastos cultivados se coloca de sete a oito cabeças por hectare, na nossa região põe dois. Primeiro porque temos uma fertilidade reduzida da terra. Depois porque temos pequenos proprietários, com 20 cabeças. Os grandes são minoria. São considerados grandes aqueles com mais de mil cabeças. Para sobreviver da pecuária é preciso ter, no mínimo, mil cabeças.”

Pecuarista indica desafios do setor
‘Discrepâncias do mercado’ são apontadas por criador de Bauru e Araçatuba; reorganização é vista como relevante

No Dia Nacional da Pecuária, pecuaristas encaram de frente seus desafios. Têm a concorrência da cana, eucalipto e laranja - e é uma das poucas atividades que o comprador é que pesa o produto e diz quanto vai pagar.
“É uma discrepância o que acontece no mercado da pecuária brasileira. Você embarca o gado na sua fazenda e manda para o frigorífico. Posteriormente, a indústria avisa quanto pesou os animais. O peso que vale é o dele. Isso é um absurdo que não acontece por exemplo com as sacas de milho,” explica o pecuarista, Álvaro Rodrigues Borges.
Na opinião dele, o setor precisa de uma reorganização e não só na região, mas no Brasil. “É preciso criar mecanismos tanto para a pesagem do gado como para saber o rendimento da carcaça. Precisamos ter uma classificação de carcaça. Quanto vale a carcaça de cada raça? Porque atualmente, o gado sai de sua propriedade e você perde o direito de saber quanto ele pesa.”
No frigorífico, segundo o pecuarista, do boi se aproveita tudo. Para o criador, o boi vale menos. “A gente ganha, teoricamente, 54% de um boi e 50% de uma vaca, se ela estiver vazia e gorda. O resto é sangue, casco, chifre, cabeça , tripa. Eles vendem tudo. Os pincéis são feitos com o rabo do boi. O chifre e casco vão para a fábrica de botões. A subindústria é muito interessante.”
Borges considera um absurdo o fato de a mercadoria ser contada pelo comprador. “Quem vai aferir a balança deles? O comprador do frigorífico te avisa quanto você entregou para ele. Se é bom negócio, depende do ponto de vista. Se o criador levar a situação mais ou menos, não é um bom negócio. Se fizer bem feito, dá para sobreviver. Eu vivo disso. Eu sou pecuarista não só na região de Bauru como de Araçatuba.”
Região é boa para a comercialização de gado
Uma coisa é certa: a região é, sim, boa a comercialização. “São Paulo e nossa região não podem ser comparadas com o Brasil, que tem outra visão. Aqui a terra é cara. Os criadores são os tradicionais. Cerca de 80% dos que lidam com pecuária têm menos de 50 hectares. A região não é ideal para a exploração da pecuária, mais para a comercialização”, explica o presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde.
A situação é irreversível a médio e longo prazo, prevê o representante de classe. “A área está  diminuindo. Isso está levando os pecuaristas a optarem pelo confinamento que em dois alqueires pode colocar mil bois. Esse sistema é usado de maio a outubro que é praticamente entressafra do boi. Época em que não há pastos e o boi emagrece. Na região ainda é pouco significativo, cerca de 25%.”
Ninguém compra terra por aqui para fazer pasto. “A pecuária não dá o retorno. Tem outras atividades que ocupam a terra que poderia ser destinada a pastagem. Tanto a cana como o eucalipto, tem restrições. A cana para poder plantar, a terra tem que estar no máximo a 35 quilômetros da usina. Se não se torna antieconômica por causa do transporte. A madeira vai para 150 quilômetros.”
A pecuária tem características próprias, avisa Lima Verde. “Porque não ocupa mão de obra. Se for comparar com uma área de cultura, a cultura tem 500% a mais de mão de obra. O que melhorou um pouco é que estão fazendo confinamento. O sistema exige mão de obra para o trato, plantio, etc.”
Compradores concentrados
No Estado de São Paulo, segundo o pecuarista Álvaro Borges, os compradores estão concentrados. “São três indústrias. As demais estão em recuperação judicial e o criador não tem segurança para vender para elas.”
Ele lamenta a falta de concorrência. “A concorrência não é nociva, pelo contrário é salutar para os criadores. Eu nunca vi um produto difícil de vender mesmo quando a demanda está em alta. É um processo estranho porque o produto é procurado e o pecuarista tem uma dificuldade enorme para vender. “Eu faço isso há algumas décadas. Eu vivo disso.”
As dificuldades do setor, na opinião dele, fizeram com que muitos criadores abandonassem a atividade e partissem para outra. “A cana, o eucalipto e a laranja concorrem com a pecuária. No momento a laranja passa por uma fase ruim. Mas no caso da cana, por exemplo, a usina paga 30 ou 40 toneladas por alqueire/ano.” Ele acha que a partir de 2015, com a mecanização da colheita de cana, algumas áreas voltarão a ser pasto. “Se a terra for muito quebrada, arenosa ou acidentadas demais não vai poder ser usada para plantio da cana, uma vez que a máquina não conseguirá fazer a colheita. O que sobra é a pecuária.”
Frigorífico para pequenos animais
 Um frigorífico para atender pequenos produtores para matar carneiros, suínos e até um ou dois bovinos. Essa é a reivindicação dos pequenos pecuaristas da região, segundo o presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde.
“Com o pequeno frigorífico vamos resolver um problema sanitário e social existente na região. É inegável que esses pequenos produtores abatam pequenos animais em suas próprias propriedades já que não têm um local apropriado.”
O local já foi definido segundo Lima Verde. “É no distrito de Tibiriçá e foi aprovado pela Cetesb. Basta equipar, um investimento em torno de R$ 500 mil. Bauru e região não têm onde abater pequenos animais, precisamos desse mini-abatedouro.”
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura de Bauru, o mini-abatedouro é um projeto em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que está em andamento. O projeto está programado para 2013.
Arealva tem mais de 40 mil cabeças de gado
Em Arealva  (41 quilômetros de Bauru) existem aproximadamente 700 propriedades rurais. Deste total, 562 cultivam a pecuária. A área do município é, predominantemente, de pastagens, ocupando de 65 a 70% delas. Ou seja: a pecuária de corte é uma das principais atividades econômicas desenvolvidas na cidade.
O plantel bovino é de aproximadamente 40 mil, mas o número muda todos os dias. Cerca de 90% do gado é da raça nelore.  Segundo o fiscal da Casa da Agricultura da cidade, Luiz Antonio Policarpo, há gado de corte, leite e recria.
“Tem muitos criadores que fazem confinamento. Há quem trate o animal no cocho. Há aqueles que tiram o leite que vai direto do laticínio. Tem muitos criadores de gado para engorda. Todos os dias, quatro frigoríficos da região compram aqui. Há ainda duas propriedades rurais que se dedicam à recria de gado Nelore. Em uma das fazendas há 50 cabeças de gado e em outra, 213 para reprodução”, explica Policarpo.
Mesmo com a entrada da cana que tomou vastas áreas, a pecuária continua predominando, até porque aproximadamente 75% das propriedades rurais são de pequeno porte, menos de 100 hectares e são administradas pela própria família, explica a coordenadora do Sindicato Rural de Arealva, Meriane Aparecida Trabuco .
“O perfil do produtor que está acima dos 50 anos, próximo de 60 e não tem filhos como sucessor é a propriedade pequena onde eles trabalham com pecuária de corte. Há propriedades maiores com pecuária de corte também.”
Segundo a coordenadora do sindicato, a pecuária de leite é praticada em quase todas as propriedades. “É economia familiar. Todos da família trabalham na propriedade. A produção diária de leite é em média de 4.5 litros/dia.”
Ela enfatiza que dois problemas atormentam os pecuaristas, o preço da carne e os roubos de gado. “Os roubos aconteceram em várias propriedades da região. Os ladrões chegavam de caminhão e levaram todo o rebanho. Isso preocupa o produtor.”
 O preço da carne para o pecuarista é outra reclamação constante, comenta Trabuco. “O preço oscila muito e raramente atinge a expectativa do produtor. A expectativa atual era que a arroba do gado atingisse os R$ 100,00, mas está oscilando na faixa dos R$ 94,00. Acredito que o problema é de mercado e não em função da estiagem.”
Fonte: www.jcnet.com.br

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