No auge da produção, distrito chegou a ter 30 famílias morando no povoado que teve origem por conta da ferrovia
Nos anos 50, o Distrito de Nogueira tinha como principal fonte de renda o laticínio. Todo o carregamento era processado e enviado para Bauru, segundo dados registrados no museu municipal Francisco Pitta, na cidade de Avaí.
No auge da produção de leite, o distrito chegou a ter 30 famílias morando no povoado que teve origem na estação ferroviária. Atualmente, a estação Nogueira serve como moradia e os “traços” que marcaram a grande movimentação de passageiros ficaram apenas na recordação dos poucos moradores.
A Estação Nogueira, quilômetro 36, foi aberta ao tráfego no dia 13 de outubro de 1916. Foi o engenheiro Joaquim Machado de Mello, então presidente da Ferrovia Noroeste, que resolveu construir uma estação no quilômetro 36 para melhor atender aos cruzamentos dos trens que apresentavam acentuado aumento.
Batizada de Nogueira, uma homenagem ao engenheiro Carlos Gomes Nogueira, ela deu origem ao povoado que 10 anos após foi designado como Distrito de Paz de Nogueira, ficando subordinado ao município e comarca de Bauru. Em 1944, uma decisão judicial fez com que Nogueira passasse a pertencer a Avaí. Na época, a Prefeitura de Avaí mantinha um subprefeito no distrito a fim de que ele solucionasse alguns problemas e garantisse o progresso.
Hoje, o distrito não tem subprefeito nem asfalto nas únicas duas ruas. O número de habitantes decresceu e só dez famílias ocupam o espaço. A igreja de São Salvador, que já foi palco de muitos acontecimentos religiosos, carece de reforma. O padre vai uma fez ao mês para rezar uma missa aos católicos do distrito.
Salvador Tieppo, um mecânico de manutenção aposentado e nascido no distrito, ainda tem “fresco” na memória, o auge de Nogueira. “Eu nasci aqui. Na fazenda Santa Maria”, conta com orgulho. “A estação ferroviária tinha um movimento intenso. O trem vinha de Bauru e ia para Corumbá. A chegada do trem era uma festa.”
Segundo ele, eram quatro trens de passageiro. “O distrito nasceu e cresceu ao redor da estação e da usina de leite. Havia muito gado nessa região, o fazendeiro Cármeno Giansante tinha um rebanho enorme em sua propriedade. No distrito tinha até usina de leite. Todo leite recolhido das fazendas ia para lá que transportava tudo para Bauru e São Paulo.”
Na década de 60, o ciclo do leite começou a decrescer e o laticínio de Nogueira foi fechado e teve início a decadência do local. “Acabou a usina de leite e tudo foi acabando. As pessoas foram embora, hoje são só dez famílias. A estação deixou de exercer seu papel, porque os trens pararam de trafegar. Eu continuo aqui porque me acostumei com a tranquilidade”, afirma Salvador Tieppo.
Ele lembra que no auge da ferrovia, havia um bar e uma venda no distrito. “Eram da dona Assunta Bertolini que hoje mora em Bauru. Agora, quando anoitece não tem barulho e ninguém fica andando pela rua. Tudo o que temos que adquirir, vamos para Avaí. Há moradores que ainda fazem pão em casa.”
Morando na beira da linha
A Estação Ferroviária de Nogueira fica a sete quilômetros da estação de Avaí. Nos fundos, hoje mora uma família com quatro pessoas. No quintal, duas vacas leiteiras quem nem de longe lembram o rebanho de antigamente. A bilheteria da estação que ainda conserva sua identificação, castigada pelo tempo. Se transformou no quarto do Diego, filho da Gisele Cristina Godoy Bueno. Já o escritório da Noroeste do Brasil é o quarto do Leonardo, também filho da mesma mulher.
A moradora que saiu de Tibiriçá para morar na estação conta que a ferrovia sabe que o local se tornou moradia. “Eles deixam a gente ficar. Não pagamos aluguel. Quando chegamos aqui, estava tudo muito ruim. Arrumamos várias coisas para tornar o ambiente melhor.”
Segundo ela, cinco famílias, antes dela, já haviam morado no local. “Os móveis e tudo o que havia na estação já não foram encontrados quando eu cheguei. Tivemos que reformar, pintar, colocar pia e fazer o banheiro de novo. Fizemos horta e cuidamos do local da maneira que podemos. Não tinha água e nem luz.”
A cobertura da estação, segundo Salvador Tieppo, foi derrubada por um temporal. “Já faz um tempo que o temporal derrubou a cobertura da estação e nunca mais foi reposta. Quando o trem ainda corria na linha, havia cerca de oito casas onde moravam os funcionários da NOB que faziam a manutenção da linha. Esses imóveis estão ocupados pelos trabalhadores da laranja. Aqui, atualmente, as terras são ocupadas pelos laranjais.”
Passado glorioso
A comerciante Inês Evangelista mora em Avaí há 15 anos. O estabelecimento dela fica a cerca de 100 metros da estação ferroviária. Quando ela se instalou no local, o trem não circulava mais. “Ouço falar que a estação de Avaí tem um passado glorioso. Uma movimentação enorme de pessoas por conta do trem de passageiros. Atualmente, o local serve apenas para juntar lixo.”
A dona de casa Maria Monteiro, 54 anos, mora nos fundos da estação há oito anos. A casa que já foi ocupada por funcionários da ferrovia serve de moradia para quatro pessoas. “A ferrovia autorizou a ocupação. Eu cuido do imóvel e do quintal. Lá na estação tem bagunça quase todas as noites. O local é usado por usuários de drogas.”
Morador de Avaí, Sidney Paulucci acha que a estação ferroviária da cidade deveria ser restaurada. “Eu moro aqui há 30 anos e me lembro bem do trem de passageiros que vinha de Bauru com destino a Campo Grande. O trem promovia uma grande movimentação de pessoas. Hoje, olhar para a estação é sinônimo de tristeza. Está abandonada...”
Segundo a Prefeitura de Avaí, o departamento jurídico estava tentando fazer uma troca com a ferrovia e pegar a estação como pagamento de uma dívida, mas o caso ainda não foi concluído, segundo o servidor Simão Navarro. “Não temos solução para estação de Avaí e nem de Nogueira.”
História da estação de Avaí está guardada no museu
A ferrovia foi para a cidade de Avaí como foi para inúmeras cidades geradas a partir da instalação da estação, onde o trem parava e mudava a paisagem. Quando a estação foi instalada, Avaí ainda era fazenda Jacutinga, nome que foi deixado de lado por conta da confusão que era feita com uma cidade de mesmo nome em Minas Gerais. O museu municipal Francisco Pitta, no centro de Avaí é o ‘guardião’ de toda essa história.
A estação foi instalada em 1906, 10 anos antes de o trem parar no distrito de Nogueira. Ao redor dela, cresceu a população. Na época, a economia era movida pela madeira e pelo café, que tinham no local e nas imediações espaços enormes tomados pela lavoura.
José Ricardo Navarro, diretor do museu, frisa que eram trens de passageiros e cargueiros que passavam pela fazenda Jacutinga (hoje, Avaí). “No dia 18 de junho de 1906, o major Gasparino de Quadros fez a doação de cinco hectares de terra onde seria estabelecido o patrimônio de Jacutinga. A Estrada de Ferro Noroeste inaugurou um trecho de 100 quilômetros de ferrovia em 27 de setembro de 1906, ficando aberto ao tráfego o trecho Bauru a Jacutinga na extensão de 48 quilômetros para circulação de trens.”
A inauguração da estação Jacutinga contou com a presença do Ministro de Viação e Obras Públicas, Lauro Severiano Muller, do presidente do Estado, Jorge Tibiriçá. O primeiro chefe da estação foi Antônio Augusto de Faria.
De acordo com ele, a linha que começou em Bauru foi até Avaí. “Este foi o primeiro trecho aberto. Em uma segunda etapa, a estrada de ferro alcançou os 100 quilômetros. Os trens transportavam lenha e café. Era preciso desbravar para desenvolver.”
‘Footing’ na chegada do trem
Morador de Presidente Alves, Waldemar Camargo ressalta que embora o trem de passageiros ocupasse a linha férrea pelo menos duas vezes ao dia, era no período noturno que conseguia agregar o maior número de pessoas, porque ali era o “footing” dos jovens.
“O trem das 20h trazia jornais, revistas, frutas e guloseimas para a população adquirir. Nesse horário, a gente deixava o jardim, que fica a menos de 100 metros, e descia para a estação.”
O trem que fazia ida e volta de Bauru para Corumbá. “Tinham dois horários pela manhã e dois à noite, um deles, por volta da meia-noite, mas era o das 20h que era o mais disputado, porque os moradores estavam livres do trabalho.”
Baldeação
Waldemar Camargo recorda que durante um período o trem não passava em Pirajuí e nem em Guarantã. “Aqui tinha uma baldeação. Quem ia para Pirajuí descia aqui e pegava uma locomotiva com dois vagões de passageiros que levava até lá, onde havia outra linha. Tinha uma terceira linha que era mantida pela Usina Miranda, uma usina de açúcar que tinha um trenzinho particular. Saía uma maquininha que levava para usina Miranda.”
Fonte: www.jcnet.com.br
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